Revolução dos Cravos
O levantamento militar do dia
25 de Abril de
1974 derrubou, num só dia, o regime político que vigorava em
Portugal desde
1926, sem grande resistência das forças leais ao governo, que cederam perante o movimento popular que rapidamente apoiou os militares. Este levantamento é conhecido por 25 de Abril ou Revolução dos Cravos. O levantamento foi conduzido pelos oficiais intermédios da hierarquia militar (o
MFA), na sua maior parte capitães que tinham participado na
Guerra Colonial. Considera-se, em termos gerais, que esta revolução devolveu a liberdade ao povo português (denominando-se "Dia da Liberdade" o feriado instituído em Portugal para comemorar a revolução).
Precedentes No dia
24 de Abril de 1974, um grupo de militares comandados por
Otelo Saraiva de Carvalho instalou secretamente o posto de comando do movimento golpista no quartel da
Pontinha, em
Lisboa.
Às 22h 55m é transmitida a canção ”
E depois do Adeus”, de
Paulo de Carvalho, pelos
Emissores Associados de Lisboa, emitida por
Luís Filipe Costa. Este foi um dos sinais previamente combinados pelos golpistas e que despoletava a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado.
O segundo sinal foi dado às 0h20 m, quando foi transmitida a canção ”
Grândola Vila Morena“, de
José Afonso, pelo programa Limite, da
Rádio Renascença, que confirmava o golpe e marcava o início das operações. O locutor de serviço nessa emissão foi
Leite de Vasconcelos, jornalista e poeta
moçambicano.
O golpe militar do dia 25 de Abril teve a colaboração de vários regimentos militares que desenvolveram uma acção concertada.
No Norte, uma força do CICA 1 liderada pelo Tenente-Coronel
Carlos Azeredo toma o Quartel-General da Região Militar do
Porto. Estas forças são reforçadas por forças vindas de
Lamego. Forças do BC9 de
Viana do Castelo tomam o
Aeroporto de Pedras Rubras. E forças do CIOE tomam a
RTP e o
RCP no Porto. O regime reagiu, e o ministro da Defesa ordenou a forças sedeadas em
Braga para avançarem sobre o Porto, no que não foi obedecido, já que estas já tinham aderido ao golpe.
À Escola Prática de Cavalaria, que partiu de
Santarém, coube o papel mais importante: a ocupação do
Terreiro do Paço. As forças da Escola Prática de Cavalaria eram comandadas pelo então Capitão
Salgueiro Maia. O Terreiro do Paço foi ocupado às primeiras horas da manhã. Salgueiro Maia moveu, mais tarde, parte das suas forças para o
Quartel do Carmo onde se encontrava o chefe do governo, Marcello Caetano, que ao final do dia se rendeu, fazendo, contudo, a exigência de entregar o poder ao General
António de Spínola, que não fazia parte do MFA, para que o "poder não caísse na rua". Marcello Caetano partiu, depois, para a
Madeira, rumo ao exílio no
Brasil.
A revolução, apesar de ser frequentemente qualificada como "pacífica", resultou, contudo, na morte de 4 pessoas, quando elementos da polícia política dispararam sobre um grupo que se manifestava à porta das suas instalações na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.
ConsequênciasNo dia seguinte, forma-se a
Junta de Salvação Nacional, constituída por militares, e que procederá a um governo de transição. O essencial do programa do MFA é, amiúde, resumido no programa dos três D: Democratizar, Descolonizar, Desenvolver.
Entre as medidas imediatas da revolução contam-se a extinção da polícia política (PIDE/DGS) e da Censura. Os sindicatos livres e os partidos foram legalizados. Só a 26 foram libertados os presos políticos, da
Prisão de Caxias e de Peniche. Os líderes políticos da oposição no exílio voltaram ao país nos dias seguintes. Passada uma semana, o
1º de Maio foi celebrado legalmente nas ruas pela primeira vez em muitos anos. Em Lisboa reuniram-se cerca de um milhão de pessoas.
Portugal passou por um período conturbado que durou cerca de 2 anos, comummente referido como
PREC (Processo Revolucionário Em Curso), marcado pela luta entre a esquerda e a direita. Foram nacionalizadas as grandes empresas. Foram igualmente "saneadas" e muitas vezes forçadas ao
exílio personalidades que se identificavam com o Estado Novo. No dia 25 de Abril de 1975 realizaram-se as primeiras eleições livres, para a
Assembleia Constituinte, que foram ganhas pelo
PS. Na sequência dos trabalhos desta assembleia foi elaborada uma nova Constituição, de forte pendor socialista, e estabelecida uma democracia parlamentar de tipo ocidental. A constituição foi aprovada em 1976 pela maioria dos deputados, abstendo-se apenas o
CDS.
A guerra colonial acabou e, durante o
PREC, as colónias africanas e
Timor-Leste tornaram-se independentes.
O 25 de Abril de 1974 continua a dividir a sociedade portuguesa, embora as divisões estejam limitadas aos estratos mais velhos da população que viveram os acontecimentos, às facções políticas dos extremos do espectro político e às pessoas politicamente mais empenhadas. A análise que se segue refere-se apenas às divisões entre estes estratos sociais. Em geral, os jovens não se dividem sobre o 25 de Abril.
Existem actualmente dois pontos de vista dominantes na sociedade portuguesa em relação ao 25 de Abril.
Quase todos, com muito poucas excepções, consideram que o 25 de Abril valeu a pena. Mas as pessoas mais à esquerda do espectro político tendem a pensar que o espírito inicial da revolução se perdeu. O
PCP lamenta que a revolução não tenha ido mais longe e que muitas das conquistas da revolução se foram perdendo. As pessoas mais à direita lamentam a forma como a
descolonização foi feita e lamentam as nacionalizações.
Pesquiza efetuada por Leonardo Santos